domingo, 12 de outubro de 2014

Ilusão

Como dizia o poeta 

Quem já passou por essa vida e não viveu 
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu 
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu 
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não 
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão 
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir 
Eu francamente já não quero nem saber 
De quem não vai porque tem medo de sofrer 
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão 
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

Vinícius de Moraes e Toquinho


Vinícius é um tradutor da minha alma. Como não amá-lo, como não amar?
Durante toda a minha vida amei, me apaixonei, morri de amores... derramei muitas lágrimas, gastei muito grafite e muita tinta de caneta em minhas muitas folhas de caderno. Fui uma adolescente bem adolescente. 
O tempo passou e com ele essa euforia. Passou a inspiração para escrever versos e poesias de amor. Passou a inocência e a crença de que o amor é um caminho florido que está logo ali na esquina. 
A desilusão no amor é uma das primeiras experiências traumáticas da menina. E ela começa, muitas vezes com os pais. Depois ela projeta para os homens da vida dela (ou mulheres, quem sabe!).

A teoria Freudiana confirma isso quando fala dos complexos de Édipo e Electra.
É bacana perceber os complexos projetados na vida adulta. Aliás, projetar é a maior das especialidades humanas. Quando começamos a observar como isso acontece, nos deleitamos com as identificações. Não importa se é negando ou não, reproduzimos e projetamos constantemente modelos adquiridos em experiências na infância. E por que isso acontece, oras?

Oras!!!! Simplesmente por que a realidade só existe dentro de mecanismos e projeções. A realidade de cada pessoa está limitada àquilo que ela adquiriu como distinção ou experiência (o inverso é inteiramente falso). Estamos limitados às nossas experiências passadas. Interpretamos o presente com base naquilo que já vivemos. Interpretamos o outro com base naquilo que já vimos e somos. É comum acreditarmos que compreendemos o outro, o que o outro sente, o que o outro é... Mas o outro é só a projeção da gente mesmo. Por isso eu acho que entendo o outro por que vejo o outro como se fosse eu. Julgo o outro como se fosse eu. E não sou capaz de alcançar aquele sentimento complexo que o outro sente, se nunca experimentei, se nunca tive contato com ele. E julga-se muito com base no que eu acho que seja. Ou seja, numa ilusão.

Acho que posso falar um pouco sobre a ilusão, pois experimento com frequência o sentimento de desilusão. Em um primeiro momento pode soar dramático, mas a desilusão, se interpretada ao pé da letra é uma coisa ótima. A desilusão te coloca de novo a par da realidade. Ou te tira da pretensão de compreender todas as coisas. 

A desilusão é evolução, é esclarecimento. Desiludir-se sobre alguma coisa requer considerar que se está errado ou que a maneira como até então compreendia e agia sobre alguma coisa era falsa. E eu me revejo com frequência. E me desiludo com frequência. A cada descoberta uma desilusão. Uma desilusão boa!
Desiludir-se é libertar-se!