sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Castelo dos Pirineus

Passeando por meus arquivos, encontrei esse escrito em um dos 300 "diários que guardo. Pois é... pra quem pensa que diário é coisa de menininha adolescente e apaixonada, saiba que é mesmo! Mas também é coisa de gente que adora investigar a si mesma e que não quer perder os melhores pensamentos e reflexões, conhecendo a fundo a própria essência. O máximo da autenticidade é sempre revelada entre linhas privadas, onde não há censura, nem críticos, nem mediadores.
O mais interessante (ou coincidência?), é que esse escrito fala sobre um livro que estou relendo agora e que gostei muito. É impressionante como cada vez que lemos a mesma coisa ela ganha mais significados. Isso reafirma a minha crença de que todas as coisas possuem infinitos significados e eu tenho uma fome insana para desvendar todos eles.
Nessa minha releitura percebo ainda melhor o trabalho de pesquisa do escritor, que utilizou como referência nos "devaneios" dos personagens muitos conhecimentos das religiões sapienciais, que também possuem abordagem espiritualista, conceitos da filosofia decartiana e estudos científicos da física quântica. Está sendo muito mais gostosa essa segunda vez! :)  
Vamos ao escrito.

Brasília, 06/02/2011

“Quanto a gente dispõe a se abrir para alguma coisa, algo se abre para a gente... o passarinho não entra na casa quando as janelas estão fechadas”.
Acabei de ler o livro O castelo dos Pirineus de Jostein Gaarder. A mensagem mais interessante que tirei do livro foi a frase acima que dentro do contexto da história faz um sentido enorme.
Percebi que estou aprendendo poesia e literatura com os escritores. Depois de tantos anos me alimentando de música e literatura, consigo finalmente me deslumbrar enxergando por uma outra ótica essas formas de arte. 
O livro que acabo de ler fala especialmente sobre fé, num contexto espiritualista. Como todo livro de Jostein, as histórias não possuem um fechamento, dito, conclusivo. Ou seja, não são histórias com começo, meio e fim como normalmente encontramos nos livros. Mas isso está totalmente de acordo com o contexto do tema “filosofia”, uma vez que a história é algo infinito do ponto de vista Histórico!.
Mas, enfim, o livro fala sobre fé de uma maneira até muito racional, por mais contraditório que isso pareça. A história do livro inspira muitas reflexões sobre a realidade, a origem de todas as coisas desde o big-Bang até a origem da “consciência” ou da autoconsciência. Interessante!

Interessante a maneira como nos acostumamos a “ser” e não nos damos conta nem mesmo do quão enigmática e fantástica é essa existência do ser “eu” e da consciência.
Estou com sono, mas gostaria de conseguir descrever por mais algumas linhas os meus pensamentos.
É tudo muito mais que isso. Viver, levar a vida, vivenciar experiências e escrever histórias no livro da vida com suas interpretações contextualizadas... é muito mais que isso.
É muito mais que estar certo, que o que se sabe, que o que se acredita... é tudo muito mais que isso.
Tudo faz parte de uma grande cadeia ou teia a qual todos estamos engendrados em seus contextos muuuuuito maiores do que se pensa.
Existir significa muito mais que isso e a grandeza de se existir está justamente aí, nesse auto encontro e auto melhoramento.
Por que? Será que estou errada? Quantas certezas e definições inúteis e carcereiras eu carrego no pescoço como medalhas? E quantas incoerências absurdas me fizeram agir de forma injusta, cruel e insensível comigo e com os outros em nome de minhas certezas e convicções?
O que gostei mesmo nesse livro foi o que foi dito sobre a fé. É difícil ter fé sem um contexto, pois eu tenho um: A VIDA!


Final feliz?



Acredito que em algum momento, pelo menos grande parte das pessoas já parou para imaginar-se como um personagem de um filme – o filme da própria vida. E como protagonista e telespectador ao mesmo tempo, sente e avalia a história, antevendo cenas, finais felizes e recompensas.
Eu e minha querida irmã, em nossas muitas conversas filosóficas e irreverentes, nunca deixamos de reverenciar a trágica influência dos filmes de sessão da tarde que muitas ex-crianças de hoje, passaram boa parte da vida assistindo. Eu e ela, pelo menos, assistimos muitos.
Como protagonista do meu filme, eu e muita gente que conheço, ainda carregamos o vício do final feliz, quando tudo dá certo e é esclarecido, o vilão se dá mal e o mocinho legal é recompensado das injustiças e fraudes.
Pois é... quando a gente cresce e a vida nos obriga a perceber que não existem finais de filme, pois depois do final do filme a vida continua e nem sempre as injustiças são reparadas, nem sempre o mocinho é recompensado e o vilão que sacaneou o mocinho, só por que tinha inveja das virtudes genuínas dele, tem a punição justa, vem o sentimento de frustração e fragilidade.
Na vida real o vilão nem sempre é vilão e o mocinho nem sempre é mocinho. Na vida real, o ser humano é dotado de muito mais complexidade e facetas, que nos filmes “trashs” de sessão da tarde. Ninguém é totalmente legal ou malvado.
Na vida real, sou vilã de mim mesma e mocinha ao mesmo tempo. E o final feliz depende mais da forma como eu encaro as coisas e com o que faço com elas do que como o mundo e as pessoas se movem.
Grande parte das patologias humanas são decorrentes de enfermidades psicológicas, viciações, falta de amor próprio...
E deixarmos levar pela vida como barcos a deriva, sem filtrar cada estímulo interno e externo, é o mesmo que estar a mercê e aceitar o que vier de braços abertos, seja algo bom ou um lixo qualquer.
É que raciocinar dá trabalho, dá preguiça. Avaliar cansa, dá fadiga... é muito mais fácil ir como a letra de Zeca pagodinho: “Deixe a vida me levar, vida leva eu...” 
Parece, mas não é tão simples assimilar o óbvio. Não importa o que você faça, as coisas podem ou não dar certo e se não derem certo, não dá pra ficar esperando o final feliz.
Gostaria de não ter assistido nenhum desses filmes idiotas, que tatuaram meu inconsciente com esse vício de que tudo dá certo no final.

Devaneios de uma pessoa romântica em um dia nublado.

É... hoje é um dia nublado. E em dias nublados o inevitável acontece. Nostalgia e emoções à flor da pele.
Me enquadro em todas as definições de complexidade e paradoxos do ser humano (que poderiam também ser chamados de normalidades), mas em dias nublados as coisas se acentuam e se revelam com tamanha e impressionante intensidade. Tinha perdido o hábito de escrever, pois por algum tempo me sentia desconfortável com a exposição. Escrever sobre o que sente é revelar-se entre as linhas e as letras... As vezes é melhor alimentar qualquer imagem de qualquer persona interessante.
Mas as máscaras não me agradam muito... pelo menos não por muito tempo. Nem as minhas, nem as dos outros... coisa cansativa.
As vezes me canso de existir... tenho certa náusea da vida. Literalmente! E a vida é tão bela, tão cheia de maravilhas. Mas existe o “Eu” confuso, o EU que deseja e o EU que trilha esse inevitável caminho para a evolução, para o desenvolvimento e que por isso esse EU sofre.
Falar de sofrimento dá muito pano para maga... não quero me alongar nesse assunto sofrido.
Se a dor existe no desprazer e também no prazer e sei lá mais aonde, poderia então discursar por horas sobre como essa dor habita nos vários âmbitos da minha vida.
E ao pensar nas próximas palavras, eu caio de novo na questão do paradoxo humano. Ainda me pego com essa racionalidade iminente. Uma pseudo racionalidade que tenta a todo custo fazer aquela parte tola da gente entender as coisas (a parte tola, no caso, me refiro ao coração ou a emoção, enfim... a parte que sente involuntariamente ainda que não queiramos sentir).
Me sinto tão ignorante quando paro pra pensar nessas coisas. Caraca! Não entendo quase nada dessa sistemática. Só sei que sinto e sinto que sinto e sinto que não quero sentir o que na verdade quero sentir também... tipo isso.
Não, não me rotule uma pessoa confusa. Esse caos também acontece na sua cabeça, que eu sei! Você só optou, ao contrário de mim, por algum mecanismo eficiente pra dizer pra todo mundo que você é maduro, prático e racional (ou não). Já que ser maduro, pratico e racional (ou bem resolvido – as pessoas adoram dizer que são bem resolvidas sobre qualquer coisa) confere algum status nas relações.
A gente só se vê com o espelho! E o espelho pode ser o outro. E esse outro nos revela também enquanto revelamos o outro.
Mas o triste de quando pensamos em chamar alguém pra conversar sobre algum assunto de que precisamos falar, é antever tudo o que a pessoa vai te dizer. Daí não precisa mais chamar. Converso comigo mesma, então! Já tirei várias provas disso.
Outra coisa triste de quando pensamos em dizer para alguém tudo o que sentimos (em relação a essa pessoa), é perceber que essa mesma pessoa não é capaz de compreender o que você sente, mesmo que ela diga que sim (é só pra não parecer insensível), mas o corpo e o olhar da pessoa estão dizendo pra você que é tudo boiolice sua. :/
Bom, não passei tanto tempo fazendo coach para adentrar no “vitimismo”, na “lambição” de feridas. Mas até que ficar nostálgica é gostoso! (Então, o paradoxo!)
Difícil explicar para algumas pessoas que elas não falam apenas com as palavras. Aliás, as palavras são o que me dizem menos. As pessoas falam com o olhar, com os gestos (principalmente os espontâneos que são mais reveladores) com o corpo e também com o silêncio. Então, não tente me enlouquecer tentando me fazer acreditar em alguma coisa que você está dizendo, mas que não demonstra em nenhuma de suas atitudes, gestos e olhares.
Eu não vou acreditar, mas vou ficar querendo acreditar, já que adoro acreditar nas pessoas, principalmente que elas são legais e estão cheias de boas intenções.
Então, é o “ó” quanto percebemos tudo isso, esclarecemos tudo na nossa cabeça, mas o resto de nós demora a compreender.

Enfim, adoro começar uma ideia e não me sentir na obrigação de concluir... Tenho que ir. Não vou prometer voltar em breve, mas vou tentar.