segunda-feira, 14 de março de 2011

Final feliz

Acredito que em algum momento, pelo menos grande parte das pessoas já parou para imaginar-se como um personagem de um filme – o filme da própria vida. E como protagonista e telespectador ao mesmo tempo, sente e avalia a história, antevendo cenas, finais felizes e recompensas. 
Eu e minha querida irmã, em nossas muitas conversas filosóficas e irreverentes, nunca deixamos de reverenciar a trágica influência dos filmes de sessão da tarde que muitas ex-crianças de hoje, passaram boa parte da vida assistindo. Eu e ela, pelo menos, assistimos muitos. 
Como protagonista do meu filme, eu e muita gente que conheço, ainda carregamos o vício do final feliz, quando tudo dá certo e é esclarecido, o vilão se dá mal e o mocinho legal é recompensado das injustiças e fraudes. 
Pois é... quando a gente cresce e a vida nos obriga a perceber que não existem finais de filme, pois depois do final do filme a vida continua e nem sempre as injustiças são reparadas, nem sempre o mocinho é recompensado e o vilão que sacaneou o mocinho, só por que tinha inveja das virtudes genuínas dele, tem a punição justa, vem o sentimento de frustração e fragilidade. 
Na vida real o vilão nem sempre é vilão e o mocinho nem sempre é mocinho. Na vida real, o ser humano é dotado de muito mais complexidade e facetas, que nos filmes “trashs” de sessão da tarde. Ninguém é totalmente legal ou malvado.
Na vida real, sou vilã de mim mesma e mocinha ao mesmo tempo. E o final feliz depende mais da forma como eu encaro as coisas e com o que faço com elas do que como o mundo e as pessoas se movem.
Grande parte das patologias humanas é decorrente de enfermidades psicológicas, viciações, falta de amor próprio...
E deixar-mos levar pela vida como barcos a deriva, sem filtrar cada estímulo interno e externo, é o mesmo que estar a mercê e aceitar o que vier de braços abertos, seja algo bom ou um lixo qualquer. 
É que raciocinar dá trabalho, dá preguiça. Avaliar cansa, dá fadiga... é muito mais fácil ir como a letra de Zeca pagodinho: “Deixe a vida me levar, vida leva eu...”  
Parece, mas não é tão simples assimilar o óbvio. Não importa o que você faça, as coisas podem ou não dar certo e se não derem certo, não dá pra ficar esperando o final feliz.