segunda-feira, 20 de julho de 2015

Terapia, coisa de gente corajosa.

Há quem diga que todo mundo precisa de terapia. Sinceramente não posso dizer que sim, mas posso dizer que é uma coisa a se pensar.
Há algum tempo faço terapia e tenho algumas impressões sobre isso. Não creio que sejam universais, mas que a maioria das pessoas que passam pela terapia em algum momento se sentem do mesmo modo que eu.
É engraçado como o/a terapeuta ganha um certo status de inimigo. É um status imaginário, que você não revela, por que isso revelaria também a sua cretinice.
Todo mundo pensa que terapeuta é alguém que apenas ouve tudo o que você diz. Mas diria que ouve também aquilo que você não diz, que está nas entrelinhas, na linguagem do corpo, nos atos falhos, no olhar que se desvia.
O terapeuta bom é aquele que sabe ver e ouvir. Não precisa de muito, basta não colocar em rótulos as suas palavras.
Depois de um tempo, parece que se torna uma consciência a parte, como se no seu dia a dia, vez ou outra imaginasse como seria contar aquela presepada que você está fazendo para o terapeuta.
A sensação de que o tempo da sessão é sempre pouco. A hora passa e parece que faltou mais um tempinho, por que era justamente naquela hora que aquele raciocínio começava a fazer sentido.
Então ele te faz perguntas, mas o que você ouve são acusações. E numa tentativa desesperada de ter certeza sobre tudo, de não desconstruir seu castelo de crenças que te abrigam das incertezas do mundo e da vida, você busca respostas que não se contradigam com as afirmações antes ditas. Mas eles vêem tudo, acredite.
Ah, somos tão paradoxais e queremos ter tantas certezas. Como se sente hoje? E aí, o que me conta? E aquela crença de que você tem ciência de tudo que acontece dentro de você, como anda? Essa humanidade toda anda coerente? E por que ser coerente? Coerente com o quê, necessariamente?
Só sei que descobri que terapia é coisa de gente corajosa. Gente que está disposta a se perder dentro de si mesmo na incerteza, nas dúvidas, nos conflitos. Gente que não teme ir mais fundo e ser questionado sem se armar contra o interlocutor com um arsenal de crenças, conceitos e filosofias de botequim. Afinal, existem tantos parâmetros para se interpretar a vida!
Não é como bater papo com um amigo. Não é como fazer coaching. Não se trata de obstinação e fé. É desatar os nós, inclusive aqueles cegos, que nem você vê, mas que te fazem tropeçar aqui e ali, que doem, seja psiquicamente, seja fisicamente.
Fazer terapia dói. E há quem sinta dor mas se ilude/defende tanto, que prefere fugir dela, escondendo, mascarando, engabelando... perigoso!

Como tempo descobrimos que a vida é dor e também delícia. E não importa o que esteja sentindo, seja alegria, tristeza ou raiva, vai passar.