sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia alheia





Motivo 


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. 
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles

Gosto imensamente deste poema! 
Representa tudo que é uma parte de mim e tudo que a outra parte de mim quer ser.

Um comentário:

Maíra disse...

Também adoro Cecília Meireles!

Beijossss