Eu sabia que um dia usaria isso aqui como
um diário!!!
A moça tecelã de Stella |
É que ao me
referir a "mulher moderna", aliás, a UMA mulher moderna, tomei a mim
mesma como referência.
Há tempos não
escrevo nada de cunho pessoal. A vida tem uma tendência a se tornar tão
impessoal, quero dizer, tudo tem sido tratado de forma tão metodológica que me
vem esse sentimento de impessoalidade. Não sei se me expresso bem ao dizer
assim. Parece um julgamento radical.
Mas voltando a
mulher moderna, pressupõe-se que me vejo de tal modo. E me vejo, ora! Me vejo
inserida na vida frenética, no bombardeio de estímulos e repleta de aspirações
e desejos. Me divido entre a mãe, a profissional, a estudante, a esposa, a
pessoa social, a pessoa íntima, a pessoa da fé... E no palco da vida vivo todos
esses papéis, hora um, hora outro, hora vários.
Vivo o arquétipo
da mulher moderna que tenta resgatar a loba, a sacerdotisa e a sábia.
Pois nesse palco não tem coxia e nem espaço para muitos ensaios. É quase
tudo "na improvisão".
Me pergunto sobre
o tempo. Duro e lascivo, arrebata e como disse Viviane Mosé, "me come por
trás", ou comia, por assim dizer, já que agora me conformei com esse
desfrute e até gosto.
O fato é que
descobri que sou ativa na relação e sou eu quem quero comê-lo. Mas não por
trás, que não me apetece. E como não sou sádica, quero ganhá-lo, conquistá-lo,
namorar com ele. Quero ter espaço nessa relação sem sufocamento, intrigas,
ciumes e nem possessividades. Tudo bem, aceito dividi-lo (sempre gostei da ideia
de uma relação aberta).
Quero ter uma
relação aberta e de troca, como deve ser qualquer relação de troca ideal.
Tenho observado
essa problemática do tempo e muitas outras no âmbito das relações. Mas vou
falar de mim. Ah, hoje vou falar de mim!
Vou falar da
mulher quase balzaquiana, com tanta história pra contar que mais parece uma
anciã. Se me sentasse numa cadeira de balanço e começasse a contar, terminaria
por consumir toda a vida na "contação" e gastaria todo o calço da
cadeira.
Em contrapartida a
anciã que habita em mim divide espaço com uma jovem moça
brejeira, faceira guerreira... E por que não imatura? Aliás, diria,
ingênua, diria inocente, diria - boba - as vezes tola, as vezes torpe. Do tipo
que fala bobagens, faz caretas e se passa por adolescente.
Ambas coabitam a
dividem as tarefas no palco da vida. E pasmem, não brigam e nem disputam o
senhor Tempo. Fizeram um combinado e desde então dividem o mesmo parceiro.
Parceiro este tão desejado que todas as minhas facetas o querem loucamente!
O pior é que não
quero abrir mão de nenhuma delas e elas não querem abrir mão de mim.
Todas querem mais
que sobreviver, querem se deliciar com cada minuto possível com esse amante tão
maravilhoso. O tempo.
O tempo para
namorar o meu amor. E me deleitar com cada dor e delícia de uma relação. O
tempo para "lamber minha cria" como uma tigresa, ou seria uma leoa
com seu filhote entre as patas rosnando para mostrar o perigo e para o
perigo.
Tempo para as
viagens literárias e gozos intelectuais. Tempo para os mais saborosos debates
filosóficos regados a um bom vinho e... deixa pra lá. Tempo para o dolce far niente (tão escasso!). Tempo para considerar
que todas as possibilidades existem e posso escolher todos os dias o que
escreverei em minha linha do tempo. E que a vida pode ser tão simples e
intensa, tão doce e tão dura.
E assim vou
tecendo a vida, indo e vindo no dondolare ritmado com
meu frenético coração.