Há quem diga que todo mundo
precisa de terapia. Sinceramente não posso dizer que sim, mas posso dizer que é uma
coisa a se pensar.
Há algum tempo faço terapia e
tenho algumas impressões sobre isso. Não creio que sejam universais, mas que a
maioria das pessoas que passam pela terapia em algum momento se sentem do mesmo
modo que eu.
É engraçado como o/a
terapeuta ganha um certo status de inimigo. É um status imaginário, que você
não revela, por que isso revelaria também a sua cretinice.
Todo mundo pensa que
terapeuta é alguém que apenas ouve tudo o que você diz. Mas diria que ouve
também aquilo que você não diz, que está nas entrelinhas, na linguagem do
corpo, nos atos falhos, no olhar que se desvia.
O terapeuta bom é aquele que
sabe ver e ouvir. Não precisa de muito, basta não colocar em rótulos as suas
palavras.
Depois de um tempo, parece
que se torna uma consciência a parte, como se no seu dia a dia, vez ou outra
imaginasse como seria contar aquela presepada que você está fazendo para o
terapeuta.
A sensação de que o tempo da
sessão é sempre pouco. A hora passa e parece que faltou mais um tempinho, por
que era justamente naquela hora que aquele raciocínio começava a fazer sentido.
Então ele te faz perguntas,
mas o que você ouve são acusações. E numa tentativa desesperada de ter certeza
sobre tudo, de não desconstruir seu castelo de crenças que te abrigam das
incertezas do mundo e da vida, você busca respostas que não se contradigam com
as afirmações antes ditas. Mas eles vêem tudo, acredite.
Ah, somos tão paradoxais e
queremos ter tantas certezas. Como se sente hoje? E aí, o que me conta? E
aquela crença de que você tem ciência de tudo que acontece dentro de você, como
anda? Essa humanidade toda anda coerente? E por que ser coerente? Coerente com o
quê, necessariamente?
Só sei que descobri que
terapia é coisa de gente corajosa. Gente que está disposta a se perder dentro
de si mesmo na incerteza, nas dúvidas, nos conflitos. Gente que não teme ir
mais fundo e ser questionado sem se armar contra o interlocutor com um arsenal
de crenças, conceitos e filosofias de botequim. Afinal, existem tantos
parâmetros para se interpretar a vida!
Não é como bater papo com um
amigo. Não é como fazer coaching. Não se trata de obstinação e fé. É desatar os
nós, inclusive aqueles cegos, que nem você vê, mas que te fazem tropeçar aqui e
ali, que doem, seja psiquicamente, seja fisicamente.
Fazer terapia dói. E há quem
sinta dor mas se ilude/defende tanto, que prefere fugir dela, escondendo,
mascarando, engabelando... perigoso!
Como tempo descobrimos que a
vida é dor e também delícia. E não importa o que esteja sentindo, seja
alegria, tristeza ou raiva, vai passar.