segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Amor livre


Há algum tempo queria falar sobre isso. Mas não havia encontrado referências para escorar minhas reflexões sobre esse tema. Após algumas pesquisas e leituras deste polêmico assunto, compartilho com vocês, caros leitores, um pouco de minhas reflexões.

Você já ouviu falar em Poliamor???

Encontrei uma definição para isso no dicionário Wikipédia: ” Poliamor (...) é a prática, o desejo, ou a aceitação de ter mais de um relacionamento íntimo simultaneamente com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos, não devendo no entanto ser confundido com pansexualidade.
Poliamor é frequentemente descrito como consensual, ético, responsável e não-monogâmico.”
**
Já em um site de Portugal que fala sobre esse assunto, encontrei essa definição: ”Poliamor é um tipo de relação em que cada pessoa tem a liberdade de manter mais do que um relacionamento ao mesmo tempo. Não segue a monogamia como modelo de felicidade, o que não implica, porém, a promiscuidade. Não se trata de procurar obsessivamente novas relações pelo facto de ter essa possibilidade sempre em aberto, mas sim de viver naturalmente tendo essa liberdade em mente. “
**
É um tema que acho interessante desde... quase sempre.
Recentemente encontrei uma tese de mestrado que fala sobre isso e também estou achando muito interessante. (Para quem tiver curiosidade: run.unl.pt/bitstream/10362/5704/1/Tese Mestrado Daniel Cardoso 16422.pdf)

Há pouco mais de dois anos eu sai de uma relação que durou mais ou menos sete anos. Me lembro que pensava sobre isso, mas não conseguia imaginar que poderia ser normal para alguém. Mas para muitas pessoas é.

Antes que me julguem, caros leitores, tentarei explicar mais ou menos o que entendi até o momento.
Vivemos em uma sociedade de cultura monogâmica e heterocêntrica (adorei essa palavra!) que valoriza um determinado modelo de relacionamento e por que não dizer, de amor. Recentemente vimos em uma novela da Globo, a história de um homem que mantinha três casamentos com mulheres simultaneamente, entretanto, sem o consentimento delas. Era comum ouvir todos os juízos acerca disso como algo abominável. “Uma safadeza”. Isso deixa claro o que é estabelecido pelo nosso padrão moral e comum na sociedade.

Mas o que podemos falar sobre o amor? Será que somos seres programados biologicamente para amar apenas uma pessoa? E mais! Somos programados para amar “até que a morte separe” a pessoa, e somente ela, que nos apaixonamos, até, sei lá, sempre? Sendo este o caso, todos que escapam desse padrão podem ser considerados anormais ou pessoas com problemas?

Existe um modelo “bonitinho” e bem vendido de relacionamento amoroso que não contempla diferenças e tampouco a complexidade humana e da vida. Se você possui um relacionamento, seja namoro ou casamento, e se encanta por outra pessoa é por que você é um# safad@. Ou talvez você não ame mais a pessoa com quem se casou! Será?

A cultura, a religião e a moral da sociedade dita as regras para que você se sinta normal e bom. Tudo papo furado!!! Tão papo furado, que se observarmos bem, constatamos que vivemos na sociedade do divórcio, do casa/separa, da infidelidade... "Ah, os homens traem mesmo!!!" Não é isso que ouvimos desde que somos crianças?

Enfim, a multiplicidade nas relações amorosas é algo que sempre existiu e não precisamos de muito para constatar.
A grande questão é que tudo isso pode causar muito sofrimento. As pessoas agem balizando suas escolhas na satisfação e na não dor. Mas não conseguem se libertar dos padrões ao escolher o caminho que decidem seguir.

Todos esses e muitos outros, digamos, argumentos, foram a justificativa dessa galera adepta a filosofia do Poliamor. Se é que posso me expressar dessa maneira para me referir a essa prática.

Imagine-se em uma relação amorosa. Ok, pense na sua relação amorosa, caso tenha uma. Pense no que essa relação significa pra você. Segurança, no sentido de você não estar só? Responsabilidade, no sentido de terem que cumprir papéis? Status, no sentido de posição na sociedade? Encantamento, no sentido de você sentir-se iluminar da presença da outra pessoa? O que sente?
Fomos ensinados a acreditar que na vida encontraremos um amor que se for sincero, nos bastará e não desejaremos nada mais do que temos, nenhuma outra pessoa. Fomos ensinados a acreditar que quando nosso pensamento se encanta por outra face, devemos refutar o sentimento em nome do compromisso sentimental previamente acordado com a pessoa que temos ao nosso lado. Só que não. Por que seriamos assim apenas em relação ao relacionamento amoroso e em mais nada em nossa vida? Conseguimos gostar de diversos sabores de sorvete, de diversas cores, de diversos amigos e familiares... Não temos que escolher entre nosso pai e nossa mãe ou entre dois ou mais irmãos, ou entre nossos filhos... mas no relacionamento amoroso temos que estar aprisionados afetivamente, ou aprisionarmos a outra pessoa.
Não quero com isso dizer que todas as pessoas passam a vida se enamorando de todo mundo que cruza o olhar. Mas acredito que seja possível que uma pessoa se enamore de mais de uma pessoa ao mesmo tempo e que isso não significa que deve abrir mão de uma pela outra. Também não significa dividir o amor, pois o amor não é uma coisa que possuímos e damos a alguém e portanto ficamos sem. O amor é algo tão intangível e mágico que quanto mais damos, mais temos. O amor é um sentimento que quanto mais, melhor.  
Quer dizer que posso odiar várias pessoas que é "normal", mas amar, devo amar apenas uma? Ah, ta... eu posso até amar duas pessoas, mas tenho que escolher uma delas por que certamente apenas um amor é verdadeiro e o outro é apenas uma ilusão! E daí? Qual seria o problema se fosse isso? E quão apta está uma pessoa para discernir sobre isso no interior de seus sentimentos e desejos? A felicidade sentida se realizado fosse o desejo de viver as duas relações (considerando esse exemplo), seria menos legitima? Ou seria impura e inadequada? 

Julgadores, se ainda tiver algum por aqui, cuspa pra cima se for capaz!!!
Ok! Não estou fazendo uma apologia a não-monogamia, entendam bem para não serem levianos em seus julgamentos. Estou fazendo uma apologia ao livre amor. Ou seja, se você encontrou o seu príncipe encantado (ou princesa) e está muito bem assim não sentindo inclinação para múltiplos afetos, maravilha! Seja feliz em sua relação monogâmica! Mas compreenda que o fato de se sentir assim, não exclui o fato de outras pessoas não se sentirem e isso não significa que são promíscuas ou safadas ou até mesmo confusas. Entretanto, se você considera como uma boa possibilidade pra você a prática do poliamor e deseja viver dessa forma, ótimo! Seja feliz como for.   

Certa vez, enquanto vivia um relacionamento, fiquei dividida entre duas pessoas.
Me vi com pouquíssimas possibilidades e optei por me separar do relacionamento em que estava para viver essa nova história, uma vez que a traição não era uma alternativa por mim aceitável. A pessoa que estava comigo na época sofreu e por isso também sofri. A outra pessoa se viu com uma enorme responsabilidade diante do cenário. Mas foi a escolha que julguei menos pior. Entretanto, ainda pensava na pessoa que deixava e também em como seria maravilhoso se pudesse não ter que fazer essa escolha. Ficaria feliz em “me dividir” entre os dois relacionamentos, pois todos ficariam felizes e eu não teria que arcar com o peso da escolha. Eu sinceramente gostava das duas pessoas, mas a história mal resolvida (da nova paixão) me causava mais inquietude no momento em relação ao outro relacionamento, que embora tivesse muito afeto, estava em um momento mais estável. Pois então fiz minha escolha, vivi minha história, que não deu certo (diga-se de passagem) e no final das contas fiquei “sozinha”. Triste fim? Imagina! Triste fim seria se eu engolisse essa angústia para sempre e morresse com a questão mal resolvida. Fiz o que tinha que fazer e arquei com as consequências. Estava em paz, embora carente. É claro que não ficou por isso mesmo. Depois reatamos, eu e o “antigo” e permanecemos por mais uns 6 anos. Durante esse tempo cogitei inúmeras vezes a possibilidade de vivermos em uma relação “diferente”, mas essa alternativa era sempre vista como “não me ama o suficiente” ou “isso pra mim é traição” ou “como assim, eu não te basto?”...
 
Depois que me separei, jurei para mim mesma que nunca mais me casaria novamente, pois gostaria de poder viver um amor livre, ou seja, de não me sentir prisioneira da necessidade de alguém de se sentir amado e exclusivo em uma relação. Mas até o momento, não conheci pessoalmente nenhuma pessoa que tenha ideias semelhantes as minhas.

 E você? Já pensou sobre isso? Já pensou que a pessoa que está ao seu lado pode ter desejos secretos de se envolver com outra pessoa ou quem sabe ela até já se envolva escondido de você?

Bom, gostaria de escrever mais sobre isso. Mas já está tarde e preciso dormir.
Deixo aqui algumas referências do conteúdo que encontrei e prometo voltar e retomar o assunto.
  





http://www.poliamor.pt/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Poliamor
http://www.polyportugal.blogspot.com.br/2013/05/poliamor-na-revista-activa-de-junho-de.html

Nenhum comentário: