Eu e minha querida irmã, em nossas muitas conversas
filosóficas e irreverentes, nunca deixamos de reverenciar a trágica influência
dos filmes de sessão da tarde que muitas ex-crianças de hoje, passaram boa
parte da vida assistindo. Eu e ela, pelo menos, assistimos muitos.
Como protagonista do meu filme, eu e muita gente que conheço, ainda
carregamos o vício do final feliz, quando tudo dá certo e é esclarecido, o
vilão se dá mal e o mocinho legal é recompensado das injustiças e fraudes.
Pois é... quando a gente cresce e a vida nos obriga a perceber que não
existem finais de filme, pois depois do final do filme a vida continua e nem
sempre as injustiças são reparadas, nem sempre o mocinho é recompensado e o
vilão que sacaneou o mocinho, só por que tinha inveja das virtudes genuínas
dele, tem a punição justa, vem o sentimento de frustração e fragilidade.
Na vida real o vilão nem sempre é vilão e o mocinho nem sempre é
mocinho. Na vida real, o ser humano é dotado de muito mais complexidade e
facetas, que nos filmes “trashs” de sessão da tarde. Ninguém é totalmente legal
ou malvado.
Na vida real, sou vilã de mim mesma e mocinha ao mesmo tempo. E o final
feliz depende mais da forma como eu encaro as coisas e com o que faço com elas
do que como o mundo e as pessoas se movem.
Grande parte das patologias humanas são decorrentes de enfermidades
psicológicas, viciações, falta de amor próprio...
E deixarmos levar pela vida como barcos a deriva, sem filtrar cada
estímulo interno e externo, é o mesmo que estar a mercê e aceitar o que vier de
braços abertos, seja algo bom ou um lixo qualquer.
É que raciocinar dá trabalho, dá preguiça. Avaliar cansa, dá fadiga... é
muito mais fácil ir como a letra de Zeca pagodinho: “Deixe a vida me levar,
vida leva eu...”
Parece, mas não é tão simples assimilar o óbvio. Não importa o que você
faça, as coisas podem ou não dar certo e se não derem certo, não dá pra ficar
esperando o final feliz.
Gostaria de não ter assistido nenhum desses filmes idiotas, que tatuaram
meu inconsciente com esse vício de que tudo dá certo no final.
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