terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A escritora

Fico triste por saber que tenho um blog e raramente tenho um tempo livre para escrever nele. É uma pena mesmo.
Mas eu deveria mesmo escrever com frequência, pois histórias e causos não faltam. Ah, se eu pudesse contar o que acontece em minha vida. Certamente teria uma penca de leitores. São história dignas de boas novelas. 
Sim, minha vida se parece muito com uma novela, cheia de emoções e novidades. Desconheço o ócio, a mesmice e a rotina. Na verdade estou carecendo de um pouco disso tudo. Mudanças, projetos, correria... essa é a minha vida. 
Eu acho (só acho!) que eu deveria ser rica só para ter mais tempo disponível para me dedicar a ler meus livros e transformar minhas histórias reais em ficção.
No dia do Natal encontrei meus parentes e dentre eles minha querida e estimada prima Michelle. Ela é uma daquelas primas que tem quase a mesma idade e uma super afinidade. Crescemos juntas e temos muitas lembranças boas de nossa infância e juventude. Além disso a admiro muito. Ela é uma daquelas pessoas que são engraçadas e inteligentes ao mesmo tempo (meu tipo de pessoa favorita). Entre muitos assuntos ela me disse que, segundo sua opinião, eu deveria me tornar uma escritora. Pois minha vida daria bons livros e eu escrevo muito bem. 
Considerando que Michelle para mim possui uma super credibilidade, acariciei aquele sonho e desejo de viver para escrever e de escrever para viver. 
Não sei exatamente em que momento da minha vida perdi minha inspiração, mas suspeito que tenha sido após ingressar no curso de filosofia da UNB. Ainda bem que já saí e agora me sinto motivada a escrever novamente. Uma possível explicação para esse fenômeno é o fato de que um aluno do curso de filosofia, após um certo tempo, não consegue mais se dar ao luxo de se permitir escrever algumas asneiras. Ou até mesmo a expressão “eu acho”, que sai mais doída que um cravo inflamado (quando sai!). Na filosofia rola um paradoxo, pois você não pode achar nada, pois tudo já foi achado antes e se você achar a mesma coisa, mesmo que sozinho, já é plágio. Pelo menos eu acho isso e sem nenhum peso na consciência. 
Eu gosto de escrever exatamente como o pensamento se forma em minha cabeça, como se estivesse tentando pescar uma ideia legal. Tem uma hora que a vara enverga e nessa hora eu sei que pesquei alguma coisa.
Mas a vida é dura pra caramba. É um dia atrás do outro na batalha pela sobrevivência, na corrida pelo conforto, pela dignidade, pela identidade que se perde nos apelos sedutores da sociedade capitalista.
Que me atire a primeira pedra que nunca sonhou em acordar todos os dias sem preocupar-se com as obrigações profissionais, com os compromissos, as contas e as pendências. Certamente não sou a única. 
Por isso viver para escrever custa muito caro. E eu ainda não estou rica! Escrever requer tempo e tempo é meu recurso mais escasso. 
Como já é tarde e eu deveria estar dormindo, vou parando por aqui, mais uma vez sem dizer especificamente nada no meu post. Mas e daí, o post é meu e o blog também!!! 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Interpretação dos sonhos



Gostaria de compartilhar algumas ideias a respeito da interpretação dos sonhos.
Não é novidade que sou admiradora da psicanálise e que pretendo me aprofundar nesse assunto. Atualmente estou lendo o livro de Freud, A interpretação dos sonhos, e estou achando interessante e curioso. Caraca, tudo tem a ver com sexo! É claro que a abordagem Freudiana da sexualidade não é algo simplista e preconceituoso. O buraco é mais embaixo.
Meu interesse, é claro, perpassa meus próprios sonhos! Sim, até por que um bom psicanalista, pelo menos do ponto de vista da psicanálise deve no mínimo ser capaz de interpretar os próprios sonhos. Além de outras coisas, é claro!
Tenho sonhos muito interessantes. Muito mesmo. E normalmente sou capaz de interpretar a maior parte deles. Pelo menos eu acho!
A psicanalise, embora seja interessantíssima, pra mim, por não contemplar a espiritualidade, me parece estar aquém das possibilidades de interpretação dos sonhos.  Costumo considerar aspectos que vão além das análises contidas nos livros sobre psicanálise que leio. Ainda estou muito longe de ser uma psicanalista, mas como uma curiosa leitora, ando dando umas boas tacadas. Mas prefiro considerar que não sou uma estudante de psicanálise que considera a espiritualidade e sim uma estudante da espiritualidade que considera a psicanálise.
Findadas as justificativas, prossigo com o compartilhamento das minhas impressões sobre a leitura deste livro.
Primeiramente, ele explica que os sonhos são manifestações simbólicas de sentimentos e emoções latentes, mal resolvidas, ou intensas que o inconsciente projeta na mente a fim de que sejam de alguma maneira confrontados pela consciência. E se manifestam por meio de símbolos justamente por que não chegaram ao nível da consciência. Além disso, acrescento que os sonhos podem ser também, a representação simbólica de alguma experiência vivida na espiritualidade durante o sonho. Afinal, acredito na projeção astral e na possibilidade de interação com outros planos espirituais e outras pessoas também.

Certa noite sonhei que saia do corpo, volitava sobre montanhas acompanhada por alguém (supostamente um guia) para receber um aconselhamento de alguém sobre questões que levei para cama na hora de dormir. Depois que ouvia os aconselhamentos, que não me lembro quais eram, eu voltava pra casa volitando e acordava dentro do próprio sonho. O mais interessante é que esse foi um sonho muito lúcido, ou seja, eu sabia que estava sonhando o tempo todo e embora não me lembre do que a pessoa me dizia, me lembro de perguntar a ela: Será que vou me lembrar disso quando eu acordar???

Esse foi um dos muitos sonhos que considero experiências espirituais. Foi bastante intenso e significativo pra mim. 

Bem diferente de um outro sonho que tive recentemente, em que eu estava em uma sala de aula como aluna, e uma professora preparava uma festa de aniversário com muitos doces para o filho dela que também era aluno dessa mesma escola. No sonho eu salivava para comer os doces.
Dentre os muito símbolos que esse sonho manifesta, ficou claro pra mim a representação do doce, como o afeto. O doce simboliza o prazer. Quando comemos doce sentimos prazer. Mas o prazer no paladar, ou seja, na boca. A boca, do ponto de vista Freudiano, pode simbolizar o órgão sexual feminino também, ou o útero! Mas calma que não é tão simplista assim. Nesse caso, o prazer é sexual, mas não necessariamente. Precisa combinar com os demais aspectos. Ainda tem a mãe, a escola e o filho pra encaixar no contexto como se fosse um quebra cabeça. Não vou explicar cada símbolo, pois seria muita exposição da figura, mas cheguei à conclusão, (explicando por alto), que esse sonho foi a manifestação de um desejo de prazer infantil que não sinto ter nesse momento e também não me permito ter. Pois no sonho eu não comia os doces, pois me preocupava com a lactose (que sou intolerante). Os sentimentos que manifestava no sonho era de desejo de comer os doces quando a minha boca salivava, ou seja, o desejo de prazer ao satisfazer os impulsos da libido (tesão pela vida e pelas experiências), mas impedida por um fator biológico, no caso, intolerância à lactose. A mãe e o filho eram facetas de mim mesma. Oferecer doces ao filho em uma celebração... Conseguem deduzir o que pode significar? Quem em conhece saberá!

É interessante como a sociedade se manifesta por meio de símbolos e tanta gente ainda ignore a relevância deles na nossa concepção de realidade. Tudo é símbolo! Não enxergamos nada tal como é, tudo é símbolo e representação.
O maravilhoso universo dos sonhos é um caminho para compreender melhor o ser humano e suas questões internas. Mas para isso é importante traduzir os símbolos que cada um concebe.

Freud não é determinista na significação deles. Sua abordagem exige mais discernimento acerca as possibilidades de construção de imagens e significados de cada ser humano e sua realidade.
Aos poucos pretendo compartilhar algumas interpretações interessantes minhas e do próprio livro.

Até breve!

A sociedade e o retrocesso afetivo.

Quando não acreditar em mais nada, lembre-se que sempre haverá alguém com um coração transbordando de sentimentos e que acredita que vale a pena amar.


Hoje, pra falar qualquer coisa tem que ser especialista. Do contrário cai no senso comum, no achismo, na tolice de falar sobre alguma coisa que não se sabe bem.
Hoje em dia, gerenciar pontos de vista diferentes sobre qualquer assunto virou uma tarefa quase impossível. Basta observar os debates informais na internet sobre política. Cada um se agarra a própria opinião com unhas e dentes como se mudar de ideia ou considerar que seu ponto de vista pode estar errado o fizesse perder totalmente a dignidade.

Gosto de refletir sobre vários assuntos e de investiga-los. Tenho uma imensa dificuldade em me fechar em uma opinião sobre qualquer coisa. Sempre considero as demais possibilidades a exaustão. Isso é cansativo, mas me livra da cretinice na maior parte do tempo.
Isso também faz de mim uma pessoa bem indecisa (não pra tudo). Meu Deus, como eu sou indecisa! Entre pipoca doce e salgada, “põe a doce no fundo e a salgada por cima!”. Ao mesmo tempo, não sou determinantemente nada... Sou paradoxo.
Sou extremos e opostos coabitando num mesmo corpo. Sou capaz de tudo e de nada. Sou quente e fria... intensamente quente e intensamente fria e sou intensa até não poder mais - eu já disse isso aqui!!! 
E como não sou especialista em nada, a não ser em mim mesma, descobri por que tem sido tão difícil escrever nesse blog. Minha dificuldade estava em falar daquilo que não me pertence. No receio de ser leviana em expor meus pontos de vista sobre qualquer assunto e estar sendo muito unilateral, limitada, preconceituosa.
Ok. Pensei um pouco sobre isso e caí de novo no ciclo vicioso de pensamentos sem fim, pois seja qual for a análise ou ponto de vista de quem quer que seja sobre qualquer assunto, será, pois, sempre unilateral, será sempre a opinião, sempre a análise que parte desse ou daquele ângulo de visão. Afff... isso é tão óbvio! Portanto não tenho como escapar do meu achismo! Fôda-se então! Era isso que queria dizer. Meu blog não é cientifico, é empírico!
Gostaria de abrir esse espaço para outras vozes, para outras emoções. E falar sobre elas, as emoções, e também sobre os sentimentos que carregamos e ignoramos.
Percebo, enfim, que a sociedade, essa entidade organizada em padrões diversos trata a natureza emocional humana de maneira irresponsável. A prova disso é essa neurose capitalista e superficial que se revela nas relações humanas.
Os papéis escolhidos para representar na vida têm sido valorizados além dos sentimentos manifestados pela natureza das relações. Os padrões de relacionamento estabelecidos por esse modelo cultural têm determinado como as emoções humanas devem se manifestar e não as emoções humanas tem definido padrões, até por que não bastariam jamais.
O ser humano é indescritivelmente multifacetado. Seria pretensioso tentar enquadrá-lo em definições e conceitos. Seria pretensioso tentar definir o modo “humano” de agir, visto que todas as coisas podem representar o modo “humano” de agir.
Voltando a minha pessoa, observo que sofro do mal do rótulo e da necessidade de dar nome as coisas, defini-las. E pior, sofro do mal de ser enquadrada em rótulos, definida.
E quando aparecem esses rótulos é bastante engraçado, pois variam de extremo a extremo.

E em meio a tantas definições e padrões recomeço a escrever meus pensamentos e reflexões sobre os que vejo, o que sinto e o que sou. Em prosa, verso, poesia, melodia ou simples textos sem conclusão, me permito devanear nesse amontoado de ideias.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Você, que não veio

Quem não me conhece
não sabe de mim
De minhas dores
meus dissabores
De meus amores

Quem não me conhece
não sabe de mim
De meus medos
meus segredos
secretos

Quem não me conhece
não sabe de mim
de meus sonhos
meu coração tristonho
do que me envergonho

Quem não me conhece
não sabe de mim
De meus desagrados
engasgados
impregnados

E quem me conhece
também não sabe de mim
De meus desencantos
meus desenganos
meus desencanos

E quem me conhece
também não sabe de mim
De minhas dores latentes
de meu vazio existente
de minha alma carente

E quem me vê por aí
não sabe de mim
De minha saudade
covarde
de outra realidade

E quem me vê por aí
não sabe de mim
De minhas caminhadas
por estradas
frustradas

E quem me vê de longe
(ou de perto)
não sabe de mim
nem nunca saberá
Sobretudo entender
ou desvendar meu olhar

E quem quase nunca me vê
(imagina!)
Mal saberá de mim
Ou de minha ausência
em mim
Ou desse vazio
de algum triste fim.

03/08/2014


domingo, 12 de outubro de 2014

Ilusão

Como dizia o poeta 

Quem já passou por essa vida e não viveu 
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu 
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu 
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não 
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão 
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir 
Eu francamente já não quero nem saber 
De quem não vai porque tem medo de sofrer 
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão 
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

Vinícius de Moraes e Toquinho


Vinícius é um tradutor da minha alma. Como não amá-lo, como não amar?
Durante toda a minha vida amei, me apaixonei, morri de amores... derramei muitas lágrimas, gastei muito grafite e muita tinta de caneta em minhas muitas folhas de caderno. Fui uma adolescente bem adolescente. 
O tempo passou e com ele essa euforia. Passou a inspiração para escrever versos e poesias de amor. Passou a inocência e a crença de que o amor é um caminho florido que está logo ali na esquina. 
A desilusão no amor é uma das primeiras experiências traumáticas da menina. E ela começa, muitas vezes com os pais. Depois ela projeta para os homens da vida dela (ou mulheres, quem sabe!).

A teoria Freudiana confirma isso quando fala dos complexos de Édipo e Electra.
É bacana perceber os complexos projetados na vida adulta. Aliás, projetar é a maior das especialidades humanas. Quando começamos a observar como isso acontece, nos deleitamos com as identificações. Não importa se é negando ou não, reproduzimos e projetamos constantemente modelos adquiridos em experiências na infância. E por que isso acontece, oras?

Oras!!!! Simplesmente por que a realidade só existe dentro de mecanismos e projeções. A realidade de cada pessoa está limitada àquilo que ela adquiriu como distinção ou experiência (o inverso é inteiramente falso). Estamos limitados às nossas experiências passadas. Interpretamos o presente com base naquilo que já vivemos. Interpretamos o outro com base naquilo que já vimos e somos. É comum acreditarmos que compreendemos o outro, o que o outro sente, o que o outro é... Mas o outro é só a projeção da gente mesmo. Por isso eu acho que entendo o outro por que vejo o outro como se fosse eu. Julgo o outro como se fosse eu. E não sou capaz de alcançar aquele sentimento complexo que o outro sente, se nunca experimentei, se nunca tive contato com ele. E julga-se muito com base no que eu acho que seja. Ou seja, numa ilusão.

Acho que posso falar um pouco sobre a ilusão, pois experimento com frequência o sentimento de desilusão. Em um primeiro momento pode soar dramático, mas a desilusão, se interpretada ao pé da letra é uma coisa ótima. A desilusão te coloca de novo a par da realidade. Ou te tira da pretensão de compreender todas as coisas. 

A desilusão é evolução, é esclarecimento. Desiludir-se sobre alguma coisa requer considerar que se está errado ou que a maneira como até então compreendia e agia sobre alguma coisa era falsa. E eu me revejo com frequência. E me desiludo com frequência. A cada descoberta uma desilusão. Uma desilusão boa!
Desiludir-se é libertar-se!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Rabiscos de julho de 2014

Estou com saudades de mim mesma. Saudades de alguém que sentia tudo a flor da pele e escrevia desesperadamente para aliviar a angústia da existência. 
Atire a primeira pedra quem estiver livre de todas as angústias, dores e conflitos dessa existência tão pouco linear.
Enquanto escrevo duas ou três palavras, outras cem tagarelam ao mesmo tempo em minha cabeça. Eis o resultado de tanto tempo sem escrever nada. 
Uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida é a sala de aula. Um universo inteirinho pra ser desvendado, descoberto, trabalhado, apreciado...
Nesse mundo eu certamente aprendo muito mais que cada aluno. 
Já vivi muitas experiências em minha vida. É provável que aqueles que me conhecem a pouco tempo não tenham noção de quantas história eu teria pra contar de minhas vivências. Aprendi com todas elas, é claro, mas continuo caminhando como aprendiz, por que tudo é tão novo sempre e por isso ainda consigo me surpreender. Sei que nesse momento poucos lerão minhas palavras e os que lerem nenhuma mensagem tão significativa encontrarão. Talvez um dia meus tataranetos achem interessante ler sobre as elucubrações filosóficas de sua tataravó antiquada. Enfim, hoje é o dia de escrever, pois como disse Oswaldo, “sou um homem inundado de sentimentos”. 
Há um tempo atrás meus sentimentos eram dedicados excessivamente a pessoas. Posso dizer que meu hobbie era me apaixonar e construir histórias em minha cabeça regadas a muita poesia e exageros. Hoje em dia minhas emoções vão para outras direções. 
Imergi para algum lugar em minha consciência espiritual, num desejo lascivo de transcender todos os sentimentos inquietantes que as vezes me dominam e que quase sempre me arrebatam. Paradoxalmente me deparo dom o desejo de não desejar.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O que é gostar de alguém


Não dá pra gostar de alguém sem querer bem. O gostar não é egoísta, não é como gostar do bem que o outro te traz.
Gostar de alguém não é gostar de um atributo desse alguém, isso é gostar do atributo. Gostar de alguém é gostar por inteiro. De tudinho, apesar dos defeitos.
Gostar de alguém é ser feliz quando esse alguém está junto. E querer estar junto também.
Gostar de alguém é querer fazer esse alguém sorrir inesperadamente só por que é nessa hora que faz o sorriso mais bonito.
Gostar de alguém é querer surpreender. Gostar de alguém é querer proteger de qualquer ameaça. De tudo o que pode causar dor.
Gostar de alguém é querer abrir mão de alguma coisa por esse alguém.
Gostar de alguém é ser sensível ao que eleva e ao que destrói a auto estima desse alguém.
Gostar de alguém é ter cuidado, é ser responsável com os sentimentos.
Gostar de alguém é ter paciência, zelo, carinho...
Gostar de alguém é lembrar e sorrir, é sentir saudade quando está longe.
Gostar de alguém é não querer mentir nem enganar.

Gostar de alguém... bem, gostar de alguém é sair de si estar no outro. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

PATRIOTAS???

Eu até achei legal quando soube que a copa do mundo seria aqui. Não tinha motivo nenhum para achar ruim. Isso por que ignorantemente, ou ingenuamente não me ocorreu nenhum pensamento naquele momento de que os cofres públicos seriam depenados de maneira ridiculamente absurda para sustentar esse evento, que de fato, é incrível. Meu desagrado não é com a copa em si (sinceramente estou cagando pra ela!), mas sim com esse excesso de importância e desse pseudopatriotismo que surge apenas quando tem copa. Depois não se vê bandeiras e nem amor a pátria nas janelas, nos carros, nas quadras e nem nas ruas. 
O Brasil não é um punhado de terra, de areias e árvores. O Brasil é um POVO, cuja maioria passa fome, necessidade, privação de escola, de saúde, de DIGNIDADE. O Brasil é o seu povo, ignorante, que seja, suas crianças prostituídas no nordeste, suas empregadas domésticas, seus vendedores ambulantes, suas mães desesperadas nos hospitais, seus professores com salários de fome, seus índios exilados... Isso é o Brasil, além das outras coisas. E como não há beleza na fome, na pobreza, no desespero dos segregados, não há patriotismo e nem bandeiras hasteadas para esse Brasil. É melhor iludir-se com o ideal: Brasil, país do futebol, e esperar para enfeitar a varanda de quatro em quatro anos para demonstrar o orgulho de ser Brasileiro. Orgulho???? Orgulho de ver onze machos suados correndo atrás de uma bola pra conseguir chutar na rede???? Vejo muitos suados correndo atrás de um ônibus sem nenhum aplauso! Vejo pessoas do serviços gerais do meu trabalho que acordam às 4 da manhã pra ir trabalhar pra ganhar um salário mínimo (de fome) e sustentar três filhos. Vejo isso enquanto muitos muitos colocam uma bandeirinha de quatro em quatro anos no carro e dizem que tem orgulho de serem brasileiros. Eu amo o Brasil, sua natureza e seus vários aspectos culturais que constituem a minha identidade.. E eu gostaria muito que meu país tivesse a qualidade de vida de um primeiro mundo. Com escolas e hospitais minimamente decentes. Com certeza eu sou patriota e não preciso protestar no dia da copa e tampouco torcer pros machos que correm atrás da bola pra provar isso. Me entristece ver tantos discursos criticando a copa e os protestos se o problema está nessa cultura de inércia da maioria das pessoas. Não adianta pedir protestos nas urnas. A maior parte da população brasileira teve educação péssima ou deficitária, quando teve. A maioria é intelectualmente desfavorecida para fazer análises críticas que resultem em um movimento consciente nas votações. A maioria está muito ocupada se sustentando e não dão conta nem da própria vida, dirá de fazer pesquisas políticas para discernir em quem votar. Nem eu, que estou todos os dias lendo e acompanhando as notícias tenho ideia pra onde ir nas eleições! Dirá os brasileiros que malemá jantam.
Sei que o exemplo é meio infantil, mas se meus irmãos estivessem doentes, eu não conseguiria curtir festa nenhuma. Ainda mais se o dinheiro usado para ela fosse roubado.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Reflexão sobre a reflexão


Terrível é o pensar.
Eu penso tanto
E me canso tanto com meu pensamento
Que às vezes penso em não pensar jamais.
Mas isto requer ser bem pensado
Pois se penso demais
Acabo despensando tudo que pensava antes
E se não penso
Fico pensando nisso o tempo todo.



Millôr Fernandes

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Beijo Gay

As pessoas têm falado tanto a respeito do beijo gay, que achei muito propício fazer um post sobre isso. A repercussão na internet é tanta, que ao invés de perceber a visibilidade de forma positiva, fiquei estupefata com alguns comentários que li. É como se tivessem mexido num vespeiro.
A começar pela falta de cuidado ao expor a opinião. Às vezes me pergunto aonde é que as pessoas vivem. Ou me pergunto: Será que nunca refletem sobre nada? Pois não há nenhuma lógica em algumas linhas de pensamento.
De repente aparecem doutores da biologia, falando sobre pênis, vagina e procriação para condenar a “abominável” prática homossexual – como se trepassem como animais apenas para a procriação! Depois aparecem especialistas em ciências relacionadas à mente para falar sobre como a homossexualidade pode ser aprendida caso tenha visibilidade – afinal de contas os homossexuais possuem algum tipo de técnica muito mais eficiente que os heterossexuais para influenciar pessoas a sentirem amor e desejo sexual por alguém do mesmo sexo! E logo depois aparecem representantes de algum Deus para mostrar o quanto esses seres desprezíveis contrariam as leis estabelecidas por “Ele” mesmo.
Ora! Tenha santa paciência! Estou realmente chocada com tantos discursos egoístas, intolerantes e BURROS! Sim, burros! Pois não fundamentam nada... opinião, opinião e opinião ditas como se fossem discurso científico.
As críticas ao movimento da visibilidade gay parte da pior classe, que é a classe dos intolerantes homofóbicos disfarçados com aquele discursinho cretino: Não sou homofóbico, até respeito, mas não acho certo mostrar isso na TV quando tem crianças assistindo. Aaaahhhh???
Por acaso existe alguma evidência de que a podemos ensinar uma pessoa a se sentir sexualmente atraída por outra do mesmo sexo??? Tipo, como se fosse uma alienação sexual, ou sei lá! Como se a nossa sociedade não fosse saturada de padrões heterossexuais, que são enfiados goela abaixo por meio de modelos até, diria, neuróticos e surreais.
Outra coisa que vejo e não acredito mesmo, é quando dizem que existem os ”gayzistas” que querem privilégios políticos. Meo Deos!
Mais do que não compreender exatamente as motivações que levaram um indivíduo a parar de viver a própria vida para ocupar-se de impedir que outros também vivam, não compreendo por que outras pessoas concordam e replicam essa informação na internet.
Toda essa intolerância me faz lembrar aquelas afirmações racistas que classificavam os negros como seres inferiores aos brancos. Hoje até velamos muito bem o racismo, afinal a lei áurea já foi assinada há muito tempo e por uma mulher branca, diga-se de passagem!
Hoje estão tentando assinar a “lei áurea dos homossexuais” para que se libertem da escravidão que são os estereótipos que os impedem de viver a vida prática, gozando dos direitos e da liberdade de SER COMO SE É em sociedade, respaldados pelo respeito, ainda que imposto na lei.
Antigamente um negro não podia sentar-se a mesa em um restaurante. Tinha que ocupar postos inferiores, como serviçais e empregados domésticos. Antigamente um casal gay não podia se beijar em um restaurante, pois o garçom logo ia repreender. “Tudo bem ser gay, mas não precisa se expor”. Seria mais ou menos como “Tudo bem ser negro, mas não precisa se expor.”
Tenho vontade de falar um palavrão nessas horas.
E não adianta falar de respeito e tolerância. Essas palavras não são compreendidas por intolerantes.
Então vamos tentar fazer entender:
“Intolerância: Falta de tolerância. Tolerância: (...) 3 Direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas. 4 Boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas”.(fonte: Dicionário Michaelis).
Simples, né? Tipo assim: Se você não é a favor da prática homossexual, seja heterossexual!  Siiiimples!!!!!
Mas não esquece de reconhecer que o outro tem o direito de ter a própria opinião sobre as coisas.
Se você é à moda antiga, muito religioso ou o escambal e “sabe” o que é certo, QUE LEGAL! Então aplica pra sua vida e seja feliz. E não esqueça de não encher o saco dos outros com a sua crença sobre o que é certo!
Se Deus disse pra você que ser homossexual é errado, então considere-se com sorte por que você não será obrigado a fazer nada que seu Deus não queira. Mas deixe que cada um faça a sua escolha em paz mesmo que pra essa pessoa esteja tudo bem ir para o inferno.
E lembre-se: O seu direito de querer que as pessoas sejam do jeito que você acha certo vai até o direito que as pessoas tem de ser como elas bem entendem.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dores emocionais

Olá! 
Dando continuidade (e não dando), hoje estava pensando no quanto as dores emocionais são invisíveis. São as piores. As dores físicas, propriamente ditas, aquelas causadas por algum fenômeno material, são menos piores, pois existem milhões de remédios em inúmeras farmácias em todos os lugares. Além do mais, são reconhecidas facilmente e também facilmente respeitadas.
As dores emocionais são quase sempre tratadas com ceticismo e descaso até mesmo por quem sente, que muitas vezes, como reflexo de alguma crença proibidora, a trata de forma arbitrária e leviana, não legitimando a sua razão de ser ou a importância.
A causa é simples de ser compreendida. Qualquer pessoa que imagine a si mesmo golpeando com a canela a quina de uma parede, por exemplo, é capaz de imaginar também a sensação de dor. A dor física é facilmente compreendida, uma vez que o sistema corporal é, de modo geral, igual!
E caso eu apareça em qualquer lugar com a canela roxa e sangrando, todos a minha volta serão empáticos e solidários. Dificilmente alguém me pediria para "andar direito".
Entretanto, a subjetividade das dores emocionais, assim como seus mecanismos, não são facilmente visíveis, tampouco identificáveis. A angustia que corrói um ser humano por dentro, pode ser ignorada por todos durante toda uma vida, até que ela se manifeste no corpo físico. 
Perdi as contas de quantas vezes ouvi um: "anda direito, menina, sua dor não é legítima", nos momentos em que me senti triste e angustiada. 

As dores emocionais são como as dores físicas, porém, localizadas na nossa alma. Por isso apenas os olhos sensíveis, os médicos de alma, são capazes de identificar e ser sensíveis a elas. 

Para ver a dor do outro é necessário empatia, sensibilidade, sabedoria. É necessário conhecer para reconhecer. Não há reconhecimento sem conhecimento. Quem nunca foi posto pela vida em situações que lhe causassem conflitos emocionais e afetivos, e por isso nunca experimentou sentimentos profundos e intensos de angustia, o que pode dizer a respeito da dor do outro??? Nada. Apenas julgamentos tão superficiais quanto seus próprios sentimentos. Afinal, só somos capazes de julgar (ou discernir) no mundo a partir de elementos que compõem a nossa própria vivência. 
Agora imaginem só se cada dor, cada tristeza e cada angústia se manifestasse imediatamente no corpo físico? Tipo, se alguém te ofende e sua zona de tensão é a garganta, você ficasse literalmente com a garganta tampada, vermelha, inflamada... Ou se a pessoa que levasse um fora no relacionamento  tivesse imediatamente uma parada cardíaca ou lhe aparecessem hematomas sobre a pele do coração. Imagine se as dores emocionais, fossem ao invés de invisíveis, manifestadas sobre a pele em forma de feridas e hematomas... imagine só como seriam as pessoas. 
Pensando nisso tenho uma projeção bizarra de pessoas roxas, sangrando, amputadas e deformadas andando na rua. Imagino uma pessoa com o peito literalmente aberto, com uma ferida exposta no coração. Imagino outras com o rosto machucado, com o pescoço vermelho, a barriga sangrando. 
Toda forma de dor seria reconhecida. A partir daí, talvez existissem leis nos direitos humanos que preservassem o ser humano das feridas emocionais. Algo do tipo: "É considerado crime hediondo ferir o coração de outra pessoa". Já pensou???

Más não! Infelizmente temos que aprender a cuidar das nossas próprias dores emocionais e das nossas próprias feridas ao invés de contar que outra pessoa faça isso por nós. E pode até ser que apareça alguém disposto, mas você terá que ter coragem de mostrar suas feridas e esperar que o outro tenha boa vontade para tratá-lo. E também terá que correr o risco de que venha alguém e diga: "ande direito! Olhe quantas coisas boas existem na sua vida."
Acontece que quando estamos gripados, com febre, com o pé quebrado, com dengue, com câncer, ou com seja lá qual for a doença, você pode olhar para todas as maravilhas existentes na face da terra, que nenhuma dessas visões servirão de remédio para o seu mal. É tão simples, né?! 
Não precisaríamos de médicos se todas as dores se curassem apenas com o auxílio do tempo. Mas é assim que "tratamos" os outros e a nós mesmos quando sentimos alguma dor emocional. E quando digo "tratamos", me incluo completamente. 
Percebo que fui criada numa sociedade que super valoriza um perfil não humano para o ser humano. Ausência de conflito, receitas e padrões para a felicidade, adequação e inadequação... todas as coisas que devemos e não devemos ser para receber a recompensa FELICIDADE. 

Um belo dia me propus e viver todos os meus conflitos. A olhar para todas as minhas dores. E reconhecendo em mim, reconheci que o outro também sofre. E assim comecei a ver melhor a dor do outro.

A dor do outro me inquieta. A minha dor não só me dói, mas me liberta de uma certa ignorância afetiva para uma transcendência muito cara e estranha.
Se fôssemos todos médicos de almas...

O papo está bom mas, pra variar, é tarde. Até breve.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Fantasmas



Hoje o dia é para falar sobre os fantasmas da existência. O que penso que sejam e como entendo que funcionam.
Há todo momento criamos fantasmas e convivemos com eles. Significam nossas experiências dolorosas, nossas lembranças tristes, nossos medos e inseguranças.
As experiências dolorosas ficam marcadas em nossa memória afetiva como tatuagens. Elas se configuram por meio de nossos medos de maneiras inimagináveis.
A maior parte dos nossos medos é desconhecida por nós mesmos e se manifesta de uma maneira que nem sequer supomos. É o que Freud chamaria de “manifestações do inconsciente”. Krishnamurti chamaria de condicionamento, que nada mais é do que um modelo inconsciente não percebido pelo ego, e Augusto Cury chama de janelas killer, que significam uma crença estabelecida a partir de uma experiência significativa, que desencadeou algum modelo de comportamento. Poderia citar Lao Tse, Osho, Masaharu Taniguchi e outras personalidades que falam sobre a mesma coisa, cada qual a partir de uma ótica específica.
Eu gosto de chamar de fantasmas. Um fantasma é alguém morto que volta para estar com os vivos, assombrando, perturbando e querendo estar no tempo errado, se recusando a permanecer no passado.
Mas nesse contexto simbólico, esses fantasmas representam algo que não conseguimos deixar morrer, uma experiência que não superamos e que alicerçou algum padrão conflituoso em nós.
Todas as vezes que nos deparamos com alguma situação de conflito interno, devemos procurar observar a motivação que existe em nós para gerar o conflito. A motivação normalmente se manifesta no desejo. O conflito só existe quando existe desejo. Se não há desejo, não há conflito. E quem deseja é sempre o ego. O “eu” deseja tudo, projetando a satisfação no objeto. Antecipando um prazer idealizado na figura ou cenário almejado.
Mas não condenemos o senhor Desejo. Ele é o responsável por tirar o homem da inércia. É o desejo, o impulso, a necessidade. Se não houvesse nada disso, o homem sucumbiria a própria existência.
O desejo existe justamente para gerar conflito e com isso experiências, que por sua vez geram mais conflitos, que geram amadurecimento e libertação do desejo. Parece tão contraditório. Paradoxal, diria! Mas o que é a existência se não algo somente e extraordinariamente paradoxal?
A diferença é que saímos de um estagio de não desejo ignorante, no sentido próprio da palavra mesmo, para um sentido de não desejo consciente. Atenção à palavra consciente. O que ela quer dizer: Com ciência. Estar ciente, saber. Não basta ser uma pedra e não ter consciência de que se é uma pedra e que existe. Uma pedra não pensa que é uma pedra (ao menos não sabemos disso). Não sabemos nem mesmo se um animal como um cachorro, ou uma vaca pensa em si como um cachorro ou uma vaca! Tanto pensamos que eles não pensam, que elegemos alguns deles para comer apenas por prazer. O ser humano tem consciência de que é um ser humano e se autodefine de várias maneiras. Também se descobre como indivíduo biológico e espiritual. Questiona-se sobre a própria existência e contempla suas dimensões material e transcendental – racional e emocional. Mas nunca sabemos onde, exatamente, está a linha que separa cada dimensão. Nossas conjecturas humanas são, de tal forma, superficiais, que não passam de elucubrações. Ainda há tanto a se saber sobre o que se há pra saber!
A mente funciona como um grande computador processando todos os comandos que lhe foram programados. Muitas vezes uma programação causa extremo conflito e o conflito gera angustia, a angustia gera dor e a dor gera movimento, que por sua vez gera mudança, que promove a experiência, que vira conhecimento e por fim evolução – não necessariamente nesse dinamismo.
Eu poderia citar a harmonia pré-estabelecida para explicar como vejo a parte da direção, (do rumo do processo) mas já me alonguei demasiadamente nesse post. Tenho que deixar assunto para a próxima.  
Por hora permaneço mais restritamente no assunto dos fantasmas. Quando eles nos assombram, devemos confrontá-los. Perguntar o que querem resolver e por que ainda estão ali. E sem ditadura devemos apresentar as novas “regras” do momento presente. As regras do aqui e agora devem ser estabelecidas sempre no aqui e agora. O agora é o ponto do poder. Não precisamos seguir regras internas estabelecidas em algum momento do passado com base em alguma experiência mistificada, que não existe mais.
Lembro-me bem de um momento da minha vida que me dei conta de que seguia uma regra estabelecida em algum outro momento insignificante da minha infância. E foi exatamente como quem não quer nada que me dei conta de que eu não era obrigada a permanecer em nenhum ambiente em que me sentisse hostilizada. Seja de que maneira fosse. Mesmo que essa hostilidade fosse imaginada, mesmo que fosse reflexo de algum complexo infundado, mesmo que fosse apenas uma impressão equivocada. Nesse dia eu estava na Itália. Tinha ido tentar uma vida melhor, mais abundante, digamos assim! Abundante de recursos, de vivências, de experiências... Sem me alongar, passei por poucas e boas para viver dignamente naquele país estrangeiro. E ao pensar no Brasil, lembrei-me de alguns momentos de minha infância e de toda uma história vivida na casa de meu pai, lugar onde sempre me senti inadequada, indesejada e hostilizada e naquele momento decidi que ao voltar para o Brasil não mais o visitaria e nem mesmo permaneceria em qualquer outro lugar em que me sentisse daquela maneira. Devem estar pensando no quão óbvia foi essa escolha. Mas é preciso sabedoria para enxergar o óbvio da própria vida. Temos preguiça e medo de ver o óbvio, pois os clichês e as sabedorias populares são tão mais fáceis e nos “respalda” sempre.
Devo continuar em outro momento, devido o horário. São 3:55 da manhã. Prometo voltar e concluir.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A tristeza permitida


Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? 

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra. 

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra. 

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. 

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas. 

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia. 

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros